Crise nacional do PDT com Governo Lula, como pode impactar a política no Ceará; entenda - Conexão Correio

Page Nav

HIDE

Crise nacional do PDT com Governo Lula, como pode impactar a política no Ceará; entenda

Foto: Thiago Gadelha O pedido de demissão de Carlos Lupi (PDT) do comando do Ministério da Previdência e do Trabalho e a saída do PDT, pouco...

Foto: Thiago Gadelha

O pedido de demissão de Carlos Lupi (PDT) do comando do Ministério da Previdência e do Trabalho e a saída do PDT, poucos dias depois, da base aliada ao Governo Lula (PT) na Câmara dos Deputados foram acompanhados, no Ceará, por uma sinalização contundente de aliança entre o PDT e a direita para as eleições de 2026, a partir da principal liderança do partido, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). 

A crise nacional entre o PT e o PDT não inaugura o cenário de fissura entre os partidos na conjuntura política cearense, pelo contrário. Central para as estratégias nacionais do PDT, o Ceará vivenciou o racha entre as duas siglas ainda em 2022, quando foram adversárias na disputa pelo Palácio da Abolição.

Desde então, houve a migração em massa de prefeitos, vereadores e parlamentares estaduais, saindo do PDT Ceará e seguindo para legendas do arco de aliança do Governo Elmano de Freitas (PT). 

Entre os que ficaram no PDT, foi possível observar uma tendência crescente de aproximação com a direita, fortalecida na disputa eleitoral de 2024, quando o PDT entrou na campanha de André Fernandes (PL), figura ligada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), para a Prefeitura de Fortaleza.

Apesar desse deslocamento do posicionamento político do PDT já estar em andamento no Ceará, a crise nacional faz com que esse "centrismo ou direitização do partido" ocorra agora "de modo oficial". A observação é do professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Emanuel Freitas. "Eu penso que agora o partido se sente mais à vontade, até mesmo espelhando-se no Ciro, para dar uma guinada mais a centro, centro-direita, como a gente está vendo aqui, no caso do Ceará", afirma Freitas. 

Candidato à presidência em 2018, quando foi derrotado por Fernando Haddad (PT), e em 2022, quando ficou na quarta colocação, Ciro Gomes vinha em um escalonamento progressivo das críticas ao PT e ao presidente Lula. 

Um movimento caracterizado por Monalisa Torres, professora de Teoria Política da Uece, como uma "transição política" do ex-governador cearense. "Ele construiu uma história política no campo da esquerda e as próprias agendas que ele defende são agendas que podem ser consideradas progressistas. Então, ele constrói uma imagem pública à esquerda", diz. 

"Em 2018, ele tentou disputar o mesmo eleitorado do Lula como um candidato progressista e perdeu a eleição. Em 2022, ele faz esse processo de transição política, de reposicionamento de imagem. Ele viu que não dá para competir à esquerda com o PT. (...) Então, ele queria se colocar nesse lugar de seduzir, digamos assim, os eleitores frustrados com Lula, frustrados com a esquerda, frustrados com a direita, com Bolsonaro e tentar ali montar uma base suficiente que o levasse para o segundo turno. Não deu certo. E desde então, ele tem feito esse caminho à direita, ele vem radicalizando".

Monalisa Torres

Professora de Teoria Política da Uece

Articulações mais 'livres' nos estados

O afastamento de Ciro Gomes do PT e da figura do presidente Lula se contrapunha ao posicionamento de outra figura central dentro do PDT nacional: o presidente do partido, Carlos Lupi. Ele era o responsável, institucionalmente, por essa aproximação com a gestão petista. 

"O Ciro Gomes já tinha saído, vamos dizer assim, da órbita do governo, do PT, desde as eleições de 2022, mas o Lupi havia ficado para a negociação do partido, para garantir cargos ao partido", pontua Emanuel Freitas. Em movimento contrário a Ciro, por exemplo, o PDT apoiou Lula no segundo turno das últimas eleições presidenciais. 

O partido também compôs, desde janeiro de 2023, o terceiro mandato do petista no Palácio do Planalto. No Ceará, também foi Lupi quem fez movimentos, junto ao presidente estadual e deputado federal André Figueiredo (PDT), de aproximação com o PT, como anunciar apoio a Evandro Leitão (PT) no segundo turno da disputa pela Prefeitura de Fortaleza em 2024, enquanto a maior parte dos vereadores do PDT e o presidente do PDT Fortaleza, Roberto Cláudio, subiram no palanque de André Fernandes. 

"Penso que essas duas figuras, uma política e outra profissional, que é o Ciro e o Carlos Lupi, encontram uma contingência, um encontro de interesses, um momento propício para dar um certo basta ou então para frear um pouco a aproximação com o governo, já tendo em vista, penso eu, as eleições do ano que vem".

Emanuel Freitas

Professor de Teoria Política da Uece

Um dos exemplos dessa convergência diz respeito, justamente, à saída do PDT da base aliada ao Governo Lula na Câmara dos Deputados. Poucas horas antes do anúncio, Ciro Gomes havia se manifestado sobre a continuidade do PDT no governo, mesmo após o pedido de demissão de Carlos Lupi. 

"O PDT continuar no governo é um equívoco absolutamente trágico, porque abre mão de uma opção de fazer uma proposta de desenvolvimentismo nacional para virar um puxadinho vergonhosamente corrompido do PT e do seu governo corrupto", disse Ciro, em coletiva de imprensa na manhã da última terça-feira (6), na Assembleia Legislativa do Ceará. Na ocasião, ele também defendeu Carlos Lupi e disse que ele foi 'fritado' por Lula.

Horas depois, Lupi participou da reunião da bancada federal que decidiu pela saída do PDT do Governo Lula. O ex-ministro não se manifestou, mas o líder do PDT na Câmara dos Deputados, Mário Heringer (MG), falou sobre a decisão pela "independência".

"Nós estamos independentes. Nós vamos fazer o que nós tivermos vontade e desejo de fazer em benefício do nosso país, dos nossos estados e principalmente das pessoas que a gente enfrenta no dia a dia, para pedir o voto na gente. (...) As atitudes e as políticas do governo vão dizer se a gente pode ou não voltar", disse. 

O afastamento do PT junto da declaração de Ciro, repetida em diferentes ocasiões, de que não será candidato à presidência da República ou a outros cargos em 2026, pode ter um impacto nas articulações do PDT para as próximas eleições. "O partido fica livre para fazer acordos nos estados, especialmente acordos de oposição", argumenta Emanuel Freitas.

PDT na oposição do Ceará

Essa liberdade pode dar força à tentativa de união para "salvar o Ceará", conforme dito pelo próprio Ciro Gomes, ladeado por antigos opositores do PL e do União Brasil. O ex-ministro participou de café da manhã com deputados estaduais da oposição ao Governo Elmano de Freitas na última terça-feira. 

Ciro falou sobre essas diferenças entre os partidos reunidos ali. "Por exemplo, olhando a política nacional, são diferenças, às vezes, incontornáveis. Porém, se nós temos em atenção que a tarefa é salvar o Ceará, essas diferenças podem ser tratadas de uma forma correta, respeitosa, leal. Em que a gente estabeleça pontos de convergência, por exemplo, para a política do Ceará", disse.

O indicativo dele em direção à oposição, no entanto, não significa que todos do partido devem seguir o mesmo rumo. Mesmo com a saída de deputados estaduais que desejavam continuar na base aliada petista no Ceará, o PDT continua com diversos parlamentares aliados a gestão petista.

Entre os cinco deputados federais em exercício do PDT, nenhum se manifestou sobre a saída do partido do Governo Lula quando contactados pelo Diário do Nordeste. Três deles foram convidados, publicamente, pelo senador Cid Gomes para integrar o PSB: Mauro Filho (PDT), Leônidas Cristino (PDT) e Robério Monteiro (PDT). O deputado federal licenciado, Idilvan Alencar (PDT), também recebeu o convite — atualmente, ele é secretário de Educação da Prefeitura de Fortaleza. 

Por falar na capital cearense, os vereadores do PDT também integram, com poucas exceções, a base aliada ao prefeito Evandro Leitão (PDT). Dos oito parlamentares da bancada pedetista, seis fazem parte da base, inclusive com vereadores assumindo secretarias da gestão municipal. 

"O PDT sempre acomodou esses diversos interesses conflitantes", aponta Emanuel Freitas. "A diferença é que, nesse momento, se tem uma tomada de decisão da direção nacional menos pragmática com tendências ao governismo e mais pragmática com tendência à oposição".

Um movimento que não deixa de ser arriscado, prossegue o professor. Freitas considera que essa aproximação pode ser "apressada", quando o PDT opta "por uma daquelas que, hoje, seria uma das duas vias, governo e oposição", deixando um discurso anterior de se constituir enquanto "terceira via".

Monalisa Torres afirma que essa transição política do PDT é "custosa". "Demanda tempo, demanda investimento, demanda políticas que a pessoa consiga entregar e que dê resultado, e que reposicione alianças... Não é uma coisa que é feita do dia para a noite", detalha. "E o eleitorado percebe algumas mudanças bruscas como superficiais, não colam, não chegam, não atingem", completa.

Da redação do Conexão Correio com Diário do Nordeste

Nenhum comentário